Vida selvagem no Pantanal volta a ser ameaçada com 18ª morte de onça-pintada na rodovia
Indivíduo macho foi encontrado morto na BR-262, em trecho entre Miranda e Corumbá

Motoristas que trafegavam pela rodovia BR-262, que corta o Pantanal, encontraram durante a noite desta quinta-feira (20) uma onça-pintada morta.
Ela foi atropelada e o corpo dela ficou no acostamento. As pessoas que viram acionaram as autoridades. A Polícia Militar Ambiental de Miranda identificou que o animal pesava 108 kg, era um macho e jovem.
Neste ano, essa é a segunda onça-pintada que morre atropelada na rodovia, na região de Miranda. O outro caso aconteceu em 27 de janeiro.
Desde 2016, o Instituto Homem Pantaneiro (IHP) realizava levantamento em torno de atropelamento dessa espécie dentro do programa Felinos Pantaneiros.
Nesse período de estudo, foram contabilizadas 18 mortes até agora. O trecho crítico é entre Miranda e Corumbá, que corresponde a cerca de 200 km.
Na lista vermelha da União Nacional para a Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês), a onça-pntada é classificada como quase ameaçada.
Por conta dessa necessidade de conservação, instituições estão gerando alerta e realizando ações de alerta com motoristas desde o começo deste ano.
O próprio IHP, junto com a Polícia Militar Ambiental (PMA) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) passaram a realizar diferentes atividades na rodovia com cunho informativo e educativo.
A PMA vem realizando diferentes bloqueios no município de Miranda para conversar com motoristas sobre a presença de animais selvagens na rodovia.
A PRF também vem promovendo essa atividade em sua base instalada próxima da comunidade do Salobra.
Policiais rodoviários federal também realizando rondas na rodovia na tentativa de localizar animais que estejam na rodovia e, de forma segura, fazer sinalização e tentar retirá-los da via para evitar atropelamentos.
No caso da onça-pintada atropelada na noite desta quinta-feira (20), por conta do porte do animal a suspeita é de que um veículo de grande porte tenha atingido o felino.
Um carro de passeio, por exemplo, no caso de colisão poderia ter sofrido um grave acidente no caso de atropelamento. As autoridades esclareceram que o atropelamento de animais silvestres involuntário não é crime.
A única medida para evitar esses registros atualmente é o motorista ter redobrar os cuidados na rodovia, respeitar os limites de velocidade e mesmo reduzir no trajeto da BR-262 entre a ponte Poeta Manoel de Barros, em Corumbá, e a comunidade do Salobra, município de Miranda.
Os atropelamentos de animais selvagens e a falta de ações efetivas do DNIT, órgão responsável por manutenção da rodovia que corta o Pantanal, podem gerar possíveis penalizações. Nesse caso, o Ibama deve realizar fiscalização.
Com relação à onça-pintada encontrada morta neste dia 20 de abril, a PMA divulgou que o corpo foi recolhido e encaminhado para o laboratório de taxidermia, que fica em Miranda. O animal vai ser empalhado e servirá para educação ambiental. Esse foi o mesmo recurso utilizado para a outra onça morta no final de janeiro.
O IHP divulgou que também nesta quinta-feira, um lobo-guará jovem também foi encontrado morto por atropelamento na BR-262, perto de onde há um ninho de tuiuiu.
O local ficou conhecido depois dos incêndios florestais de 2020. O ninho acabou destruído, mas acabou recuperado e a ave que é um dos símbolos do Pantanal utiliza o local para reprodução.
O avistamento dessa espécie na região não é comum. Considerado em estado de vulnerabilidade pela lista vermelha do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e em risco de extinção.
Medidas paliativas e estudo de caso
Depois da discussão e esforços em conjunto de entidades para reduzir o atropelamento de animais selvagens na BR-262 realizado em fevereiro deste ano, bonecos sinalizadores foram instalados em sete áreas da rodovia.
A iniciativa foi do IHP e contou com apoio da Superintendência Regional de Mato Grosso do Sul do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
Além dos bonecos, o Instituto está com armadilhas fotográficas instaladas em pontes de vazante para promover estudo sobre esses locais servirem de possível utilização de animais para travessia.
Imagens vão ajudar os pesquisadores a identificar a frequência e quais condições existentes na parte inferior das pontes podem influenciar mais que os bichos utilizem esse recurso ao invés da rodovia.
Existem cerca de 60 pontes na rodovia que podem servir de corredor para a fauna utilizar em detrimento da pista de rodagem.